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09 janeiro 2020

Capitão Futuro e as 7 Gemas Espaciais (Capítulo 18)


O Subuniverso
  
     Capitão Futuro não demorou a compreender todo o leque de possibilidades maléficas contidas na situação. Otho e Joan ainda se mostravam incrédulos, embora notassem a natureza do perigo estampado no rosto do amigo.
     -- O que vamos fazer? soltou Joan. 
     -- Se eu puder pegar os planos do mecanismo das gemas e construir um, eu iria atrás dele, declarou Curt.
     -- Ideia horrível, disse Joan empalidecendo. Se submeter aos inimagináveis perigos de um universo estranho.
     -- Estamos presos aqui, não se preocupe. Bubas Uum virá liquidar conosco logo, logo, reclamou Curt. E Quorn vai voltar do universo do grão com...
     -- Droga, se eu conseguisse livrar só uma mão das algemas! grunhiu Otho torcendo os braços com raiva.
     Curt ficou mais animado com as palavras do androide pois lhe deram uma ideia. Talvez o Capitão Futuro ainda daria trabalho! Eles estavam dependurados com as mãos algemadas aos grilhões na parede, mas as pernas estavam livres. Curt as levantou, tocou com os pés o cinto que Otho usava.
     -- Mas que diabo, chefe? irritou-se. Não é hora para acrobacias!
     -- Essa acrobacia vai nos tirar daqui, Curt falou rápido. Escute! Se eu conseguir alcançar o óleo que amolece sua pele sintética aí no cinto, você poderia se livrar das algemas.
     -- Como não pensei nisso?
     -- Fique parado, deixe-me tentar, disse Curt. Primeiro vou tirar os sapatos para poder segurar com os pés.
     Curt se livrou das botinas espaciais, daí, se pendurou pelos punhos e alcançou o cinto de Otho com os pés descalços. Mexendo com eles freneticamente, abriu o bolso de maquiagem e com os dedos dos pés retirou o frasco de óleo cor-de-rosa.
     A pele artificial do androide era passível de ser amaciada com o produto, e então moldada à vontade. Otho tirava vantagem desse fenômeno para criar seus insuperáveis disfarces. O Capitão Futuro tinha outros planos para o óleo.
     Segurando o frasco entre os dedos dos pés, ele o levou até os punhos do androide e pressionou a válvula. O jato borrifado cobriu as mãos e punhos de Otho e segundos depois, a consistência da pele se alterou. Agora maleável, ela permaneceria nesse estado por alguns minutos, tempo suficiente para agir. Virou os punhos até deslizarem livres.
     -- Bom trabalho, chefe! elogiou. Já tiro vocês daí.
     Teve que esperar a pele ficar novamente firme e tirando uma gazua do cinto, libertou os demais.
     -- E agora? sussurrou tenso. Cela trancada. Os guardas lá fora...
     -- Molde um disfarce de Bubas Uum, ordenou Curt. Vai confundi-los e poderemos manipulá-los.
     Cuidadosamente, o androide, mestre na arte referida, borrifou o óleo amaciante sobre o corpo e remodelou em uma figura obesa. Concluiu a maquiagem com tinturas até chegar a uma réplica exata do joviano verde.
     -- Como estou? perguntou com a voz já empostada.
     -- Horrível, mas bom. Curt replicou após pegar as gemas do chão e guardá-las no cinto. Chame os guardas. Finja que estava aqui o tempo todo.
     Otho foi até a janelinha da porta e, usando o tom esganiçado de Bubas Uum, chamou os carcereiros.
     -- Muito bem, homens. Tirem-me daqui!
     Um guarda espiou pelo visor e mostrou uma fisionomia abobalhada. Otho se posicionou de forma a bloquear a visão de Joan e Curt lá dentro.
     -- Mas, chefe, pensei que já havia saído!
     -- Seu idiota! Está vendo coisas! Deixe-me sair!
     O homem obedeceu sem entender. Ao abrir a porta, no entanto, ele e o colega foram jogados ao chão pelo bote de Otho e Futuro. Inconscientes pelos cruzados de esquerda recebidos, foram arrastados para dentro da cela e devidamente trancados.
     -- Vamos para a Cometa, nos guie para fora, Otho, Curt pediu.
     Correram pelo corredor até a escadaria nos fundos onde um outro guarda em dourado sacou a pistola, mas abaixou-a ao ver a figura do patrão.
     -- Tudo bem, disse Otho com voz rouca. Saia da frente!
     Emergiram para a noite quente do planeta e rumaram para longe do Palácio da Sorte, saindo em seguida da Cidade das Oportunidades pelas vielas escuras.
     Começaram a ouvir uma barulheira vinda das ruas que acabaram de passar.
     -- Descobriram que fugimos, disse Curt ofegante. Corram.
     -- Agarrou a mão de Joan e foi puxando-a pela mão pelo resto do caminho ladeando o espaçoporto. Correram para dentro da Cometa assim que ela se mostrou na escuridão.
     -- Explico tudo depois, estão atrás de nós! Curt falou entre arfadas para Grag, Simon e Ezra. Manda ver nos motores, Grag!
     O robô pulou nos controles e fez a nave saltar para a atmosfera e logo entrar no espaço vazio.
     -- Aí está bom, instruiu Curt. Mantenha-a orbitando o Planeta. Virou-se para o Cérebro e sua face estava lívida.
     -- Exatamente como pensamos, Simon, Quorn partiu para um universo subatômico, o mesmo tentado por Thuro Thuun. Está lá agora.
     -- Do que está falando? Ezra indagou.
     Curt retirou as gemas do cinto e apontou para a joia negra na face da qual o grão de areia vermelha fora encravado.
     -- Este grão contém um universo inteiro e uma ameaça adormecida. Quorn está tentando liberar essa ameaça e usá-la em seus planos. Ele está aí dentro do grão nesse exato instante. Para impedi-lo, eu vou atrás dele.
     -- Perdeu o juízo de vez? repreendeu-o Ezra.
     Sem dar a mínima atenção à indignação do veterano, Futuro alinhou as seis gemas na bancada do laboratório sob o projetor de raios-X.
     -- Estas seis gemas aqui guardam o segredo do cientista marciano, sua gravação mental do que sucedeu no subuniverso, Curt disse distraído. A sétima gema contém o universo. Primeiro precisamos 'ouvir' a fórmula completa, finalmente!
     Ele ligou o aparelho e foi direcionando o projetor. À medida que as irradiações chegavam às gemas, uma a uma, elas liberavam parte da mensagem que chegava a todos no laboratório por via telepática. Era o marciano morto falando-lhes à mente com clareza.
     -- Sou Thuro Thuun. Sou um cientista marciano. Nosso mundo morre. Nossa civilização fenece. Estou à procura de um outro universo, algum sistema estelar subatômico para o qual possamos migrar. Acredito que exista vários mundos subatômicos habitáveis nos átomos do nosso mundo. Descobri como aumentar e diminuir o tamanho dos corpos. Assim, consegui miniaturizar meu ser e adentrar um grão de areia do deserto. Como esperado, ele continha uma galáxia inteira. Somente um dos planetas de uma estrela vermelha era habitável.
     "Encontrei o perigo, contudo. Um outro povo desejoso de adentrar nosso universo! 
E desta feita, expus o meu ao perigo, pois eles queriam que eu os levasse ao local de onde vim. Fingi concordar e lhes disse que retornaria com muitos aparelhos iguais aos que portava comigo. Enganando-os, consegui com que me deixassem ir. Voltei ao meu mundo resolvido a jamais correr tal risco mais uma vez. Será melhor para meu povo que continuem a lutar contra as agruras da vida.
     "Contudo, não querendo eliminar meu achado, gravei-o nestas gemas. Talvez em algum momento no futuro, meu povo vai encarar a destruição e com essa fórmula poderão buscar refúgio em algum outro universo. Muito cuidado deve ser tomado na seleção desse novo habitat. A fim de entrar no universo infinitesimal, me foi necessário diminuir a rotação e a revolução de cada um dos corpos celestes do grão de areia, desta forma atrasando sua morte inevitável.
     "Deixo meu segredo para ser usado somente como recurso extremo, na esperança de os habitantes resolverem seus problemas.
     "O tamanho das massas pode ser regulado por um simples processo de condensação de forças ou acreção. O subelétrom, a última unidade de matéria, não é nada mais que uma partícula de energia. Pode ser condensada ou expandida ao se drenar ou fornecer essa força usando-se cargas positivas e negativas.
     "Um pequeno gerador deve ser construído capaz de gerar vibrações dentro da décima terceira divisão da oitava oitava do espectro eletromagnético. Elas serão as ondas transportadoras que ao envolver o indivíduo, afetam todos os átomos. Corpo e roupas.
     "Quanto mais forte a carga negativa, maior o efeito redutor. O mesmo ocorre com a carga positiva caso se deseja aumentar de tamanho. Mas não use o processo para entrar no universo subatômico do grão de areia. Os infelizes habitantes dos mundos moribundos, que me imploraram para trazê-los até aqui,  podem tentar forçá-los a tal. Seu destino é penoso, de certo, mas não podemos permitir que eles entrem em nosso sistema.
     Curt desligou o projetor e olhou em volta, encarando seus companheiros.
     -- Agora sabem o segredo de Thuro Thuun, começou. Que ironia! Ele viajou ao universo atômico procurando planetas habitáveis para seu povo e encontrou seres em pior situação! Não é de se admirar que ficou com medo de reutilizar o processo.
     -- Inacreditável, sussurrou Joan. Uma civilização inteira em extinção dentro deste grão!
     -- E Quorn está lá também, lembrou Curt. O plano dele é óbvio. Vai tentar barganhar com a raça dos desesperados, a vinda deles para o lado de cá em troca de sua total submissão à sua liderança. Os coitados devem estar tão aflitos que vão aceitar a oferta, com certeza.
     -- Vai ser fácil pegá-lo, então! entusiasmou-se Otho. É só destruir o grão e será o fim do Dr. Quorn!
     Curt olhou para ele perplexo:
     -- Seria o fim de uma raça inteira, e que está lutando por suas vidas em um universo em colapso!
     -- Não podemos destruí-los, disse Simon ríspido. Thuro Thunn não cometeria tal crime. Talvez por isso ele tenha encravado o grão na sétima gema, para quem sabe um dia, pudesse auxiliá-los de alguma forma.
     -- A única forma de impedir Quorn de barganhar com esse povo desesperado é se eu for atrás dele, disse Curt. Simon, temos que construir um gerador como descrito na gravação de Thuro Thunn. Quorn levou semanas, mas nós temos somente alguns minutos.
     -- Vamos tentar, Curtis, replicou o Cérebro. Agora, se vamos conseguir...
     -- Não há nada que quatro dos maiores cientistas do Sistema não consigam fazer! encorajou Ezra Gurney com devoção.
     O trabalho começou intenso na cabine do laboratório da Cometa enquanto orbitava o Planeta dos Prazeres. Capitão Futuro e os Homens do Futuro correram contra o tempo utilizando cada iota de suas habilidades técnico-científicas.
     Ezra e Joan observaram quietos e maravilhados. Já haviam visto os quatro trabalharem juntos mas jamais com tamanha destreza e cooperação integrada antes.
     O gerador discoide tomou forma sobre o balcão do laboratório. Grag e Otho foram trazendo as partes específicas para a montagem enquanto o Cérebro checava o andamento com suas lentes oculares e coordenava as mãos ágeis de Curt com frases monossilábicas.
     -- Vamos testar, disse por fim o Cérebro. Calibração, rapaz. Primeiro a onda portadora. Está boa.
     -- E a carga energética? perguntou o androide. 
     -- Negativa, Otho.
     -- Não exatamente dimensional, disse o Cérebro. Ajustar.
     Curt apertou uma peça levemente.
     -- E agora?
     -- Bom, disse breve. Terminamos.
     Curt endireitou o corpo, os olhos irritados após o esforço com as ferramentas de precisão.
     -- Acho bom ir logo, soltou o Capitão. Me passem um traje espacial e um propulsor individual.
     -- Para que o traje? indagou Ezra.
     -- Não existe ar entre os mundos, Ezra. Vestiu o traje que o entregaram e grudou o gerador no cinto.
     -- Se eu não retornar, Simon, impeça Quorn de emergir do grão, instruiu Curt antes de colocar o capacete.
     -- Com certeza, prometeu Simon. Tenha cuidado.
     -- Tenho um plano para impedir Quorn, caso eu consiga me comunicar com os pequenos atômicos. Vou lhes oferecer uma chance de vida, sem necessariamente apinhá-los aqui no nosso Sistema.
     Os demais se entreolharam curiosos à espera da revelação do plano que Curt omitiu. Ele atou o capacete no traje e ligou o gerador. Sentiu o choque repentino quando a aura dourada da onda portadora o envolveu seu corpo. O choque logo passou. Curt olhou em volta, tudo e todos se tornaram rapidamente grandes e percebeu que era ele quem encolhia.
     As paredes do laboratório viraram muralhas e seus amigos se agigantaram, ainda mais ao se curvarem à sua volta observando o encolhimento. Quando julgou ter uns trinta centímetros de altura, acenou para Greg colocá-lo sobre o balcão que lhe parecia uma vasta planície metálica. Ao chegar a cinco centímetros, correu até a gema negra, já chegando lá e tendo que escalar o monte negro na altura da cabeça. Já estava com dois centímetros. Subiu na gema como se arrastando por uma colina negra. O grão se assentava no cume como um rochedo irregular. Escalou o grão e ficou de pé em cima. Agora, ele mal discernia as figuras enevoadas colossais e indistintas de seus amigos que provavelmente já não o viam mais. A rocha à sua volta virara uma planície rugosa.
     Ao diminuir ainda mais, a paisagem do grão se transformava cada vez mais rápida em vales e montanhas. Caiu em uma fenda que se abriu de repente e em segundos era um abismo profundo. Continuou caindo enquanto as paredes do abismo se desintegraram em um enxame de glóbulos girando loucamente. Percebeu que os globos eram na verdade os átomos do grão. Flutuava, agora, no espaço interatômico!
     Mas não! No espaço interestelar! Conseguia discernir mundos em cada um dos átomos do grão de areia. Todos revolvendo em torno de suas estrelas. Um universo de estrelas e planetas dentro do grão! Entretanto, estavam mortos. As estrelas eram escuras como brasas frias, os mundos secos e sem vida, um universo que entrara na fase de extinção. E, lá longe, naquela miríade de estrelas apagadas, Curt Newton viu a pequena fagulha de um sol vermelho escuro. A última centelha de vida que teimava em queimar por lá.
     -- É ela, respirou. A estrela do povo atômico que Thuro Thunn descreveu. E Quorn!
     Verificou o nível do encolhimento e desligou o gerador. Com o propulsor portátil, Capitão Futuro começou a se mover como um gigante por entre as estrelas e em direção ao sol vermelho-sangue.




(continua... capítulo 19: O Gigante das Estrelas)  

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