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26 outubro 2019

Capitão Futuro e as 7 Gemas Espaciais (Capítulo 10)


Os Filhos das Luas Irmãs
  
     Na calada da noite em Marte, como uma cantilena de vozes murmurando as glórias a muito enterradas, sopravam os ventos gélidos vindos das calotas polares. Se lamentavam e gemiam em tom baixo pelos desertos e planícies secas que se estendiam em todas as direções. A aragem fria também chegava até Korak, se esgueirando pelas vielas e muralhas, torres e domos carcomidos pelo tempo.
     Para os poucos marcianos da parte mais velha da cidade, o vento não era bem recebido pois tinham que se aconchegar mais ainda sob as cobertas de lã sintética. A maioria dos marcianos de pernas alongadas se dirigiam para o sul onde os letreiros brilhantes sob o céu duplamente enluarado anunciavam o Circo Interplanetário.
     Uns poucos cidadãos andavam silenciosos até uma torre baixa de alvenaria, uma construção antiga localizada próxima ao grande canal ocidental. Lá em cima na torre, em uma sala parcamente iluminada por um bulbo de uranita, Ul Quorn se sentou e esperou envolvido em uma capa pesada. Remoía pensamentos. Seu olhar expressava nojo ao ver em volta, nas paredes caindo aos pedaços, murais com cenas de batalhas marcianas antigas.
     -- Morto, como tudo o mais em Marte, ponderou crítico. Estas pessoas vivem do passado, quando Marte era grande e gloriosa. N'rala! Por onde se meteu?
     --A marciana jovem entrou linda dentro de um corpete amarelo e uma saia justa e decotada. Havia uma centelha de perigo nas profundezas plácidas daqueles olhos negros ao virar-se para o mestiço.
     -- Estou aqui, disse, e não sou nenhum chullat para ser chamada desse jeito! Já matei homens por muito menos.
     Ul Quorn sorriu.
     -- Não tenho dúvidas disso; por isso sou seu fã, N'rala. És de uma vileza sincera e deplorável. Pelo menos não é hipócrita.
     O ânimo da moça se acalmou. Suas mãos rúbias tocaram os ombros de Quorn com uma ternura possessiva.
     -- Onde está aquele bobão do Si Twih? ele quis saber.
     Ela deu com os ombros perfeitos.
     -- Lá embaixo, recepcionando os Filhos das Luas Irmãs ao chegarem para a reunião. Ele disse que daria o sinal para você descer e falar-lhes.
     -- Eu queria não ter que discorrer mais bobagens para estes fanáticos, revelou entediado. Por que ele não me diz logo onde estão as outras pedras? Ele disse que sabia.
     -- Ele vai dizer, mais tarde. N'rala assegurou-lhe. Ele gosta de um drama, é só.
     -- Crianças, é o que eles são. E essa farsa de restaurar a glória de Marte! reclamou. E eu ainda tenho que pactuar com isso ou não verei pedra alguma!
     -- Mas não vai valer a pena? exclamou N'rala. Com o poder de Thuro Thuun terás riquezas, poder, prazeres, tudo o que almejas.
     Ul Quorn olhou para ela com o rosto bonito e cheio de desprezo.
     -- Você acha que é por essa razão que eu quero poder? Prazeres e fama? Você ainda não me conhece o bastante! Poder para mim significa quebrar as leis, destruir opositores, acabar com obstáculos, tudo em prol dos objetivos científicos. Tentei fazer isso na Terra anos atrás e aqueles idiotas sensíveis me chamaram de "monstro" e me trancafiaram na Prisão de Cérberus. Mas, deixe estar. Quando dominar o poder de Thuro Thuun, levarei minhas pesquisas à escala planetária!
     -- Eu não entendo. N'rala se afastou dele.
     -- Claro que não entende. O que uma mulher linda como você, com um coração negro como o espaço sideral, sabe sobre ambição científica? Qualquer outra mente científica entenderia, mesmo sendo hedionda. Até mesmo o Capitão Futuro, apesar de ter planos de acabar comigo, entenderia.
     -- Capitão Futuro... esse demônio encarnado, disse com ódio e medo nos olhos. Por que não o matou antes? Você sabe que ele é o domador Kovo.
     -- Não se mata um homem como Futuro logo depois de se descobrir sua identidade, lamentou Quorn. Vários já tentaram essa façanha e não estão mais aí para contar. Ele é por demais competente para ser pego com truques baratos ou mesmo ser surpreendido duas vezes por uma arma como o desintegrador. Eu e ele somos, com certeza, os maiores cientistas do Sistema atualmente. É uma pena que um de nós tenha que destruir o outro.
     -- Você está caindo em contradição, observou N'rala. Você disse que guarda rancor do Capitão e dos Homens do Futuro, que dívidas antigas clamam por sangue, e mesmo assim fala deles com aprovação.
     -- Foi o lado terrano que falou, N'rala. É uma coisa que nenhuma outra raça entende ainda: como que terranos enfrentam seus piores inimigos com um sorriso nos lábios e um elogio na língua. Meu lado venusiano me diz para não temer os inimigos, para esquecer os detalhes incômodos e aproveitar o que é belo. Já meu lado marciano me impele a não esquecer as mágoas trazidas pelos Homens do Futuro. E eu não quero esquecer!
     Um marciano raquítico e tímido enfiou a cabeça pela porta.
     -- Si Twih manda avisar que os Filhos das Luas Irmãs estão todos esperando por vós. Cuspiu a ordem e saiu rápido.
     -- Vamos agora à encenação, disse Quorn irônico se despindo da capa. Tenho que lhes dar alguma esperança como quem dá um osso a um chullat.     
     Seguido de N'rala, o mestiço desceu as escadarias escuras de paredes carcomidas até um salão na base da torre de formato circular e com janelas acortinadas. Uma estrutura no teto vertia a luz de bulbos de uranita sobre cerca de cem marcianos.
     Si Twih, o velho marciano de olhos afundados e líder do culto fanático, estava de pé sobre um estrado. Quorn subiu e chegou ao seu lado. Todos os olhos de voltaram para a figura esguia e garbosa do cientista mestiço.
     -- Filhos das Luas Irmãs, Ul Quorn cumprimentou com voz baixa, porém com boa dicção, o segredo de Thuro Thuun logo estará conosco. Finalmente. Caso, é claro, continuem com vossa obediência mais que louvável. E então, o sonho que compartilhamos será realizado: a glória de Marte!
     Quorn observou a emoção quase patética que iluminou aqueles seres aflitos. Lançou um olhar para N'rala, do outro lado do salão, e a viu esboçar um traço de sorriso. Antes de continuar, um marciano robusto e grisalho, de feições duras, levantou-se.
     -- É me permitido fazer uma pergunta?
     -- Este é Mus Sigu, um irmão de Syrtis, Si Twih o apresentou. Qual é a pergunta, irmão?
     Mus Sigu virou-se desafiador para Quorn.
     -- Nós, Filhos das Luas Irmãs das cidades equatoriais estamos impacientes com vossas promessas, Doutor Quorn. Já não deveríeis estar de posse do segredo misterioso de Thuro Thuun? Talvez já o tenha, a formula, e a esconde para si!
     Quorn sentiu uma fúria subir-lhe à face. Como este incauto chegou tão próximo da verdade? Mas não deixou seu temperamento lhe subir demais à cabeça.
     -- Vosso líder, Si Twih, sabe que não possuo o segredo ainda. Só tenho posse de quatro das sete pedras espaciais e precisamos das três restantes antes que o poder devastador de Thuro Thuun seja nosso.
     -- Assim é, irmãos, assegurou Si Twih para os presentes. E temos boas novas. Localizamos as demais gemas. Quando esta reunião findar, passaremos as informações para o Doutor Quorn para que as alcance.
     -- A menos que o Capitão Futuro interfira, avisou N'rala.
     Uma exclamação de medo subiu da turba fanática.
     -- Capitão Futuro está agindo contra nós? gritou um. Então há perigo real. 
     -- Não se preocupem, Quorn acalmou os ânimos. O Futuro encontrou um adversário à altura em minha pessoa. Ele vem me cercando à dias sem conseguir nada. Logo estará fora de nosso caminho. Tenho uma dívida a sanar com ele e aqueles heróis dele.
     O marciano robusto, Mus Sigu, levantou a voz.
     -- Diga-me onde Futuro se encontra agora e eu mesmo vou matá-lo. Não o temo!
     -- Não se preocupem, repetiu Quorn frio. Já tenho planos para acabar com nosso inimigo.
     -- Irmãos, ouviram aqui que o poder de Thuro Thuun logo será nosso, Si Twih se dirigiu à plateia. Não estendamos essa reunião por mais tempo, a Polícia Interplanetária está desconfiada de nossas atividades. Vão, e logo serão chamados de novo para compartilharem o final bem-sucedido.
     Os adeptos marcianos começaram a sair um por um, sem alarde. Quorn sentiu alívio. Cumprir seu papel com estes fanáticos era estressante. Sendo realista e astuto como era, além de impiedoso, ele não entendia muito bem tamanha devoção.
     -- Feliz será o dia quando isso acabar, pensou. Já é demais ter que manter o Capitão Futuro fora do meu calcanhar e ainda ter que aturar esses maníacos também.
     Si Twih e outros dois líderes do Culto gesticularam para Ul Quorn. Ele os seguiu até uma pequena câmara atrás do palco enquanto N'rala retornou à sala superior da torre. Quorn encarou os marcianos.
     -- Então, você disse que localizaram as outras três gemas, disse nervoso.
     Si Twih assentiu.
     -- Gastamos todos os recursos de nossa organização no rasto delas. Contudo, vais ter que gastar todos os vossos para consegui-las.
     -- Onde estão?
     -- Uma delas está em Deimos, respondeu Si Twih. Está em posse de um marciano que vive em uma propriedade lá. Ele se faz passar por um magnata armador, mas é na verdade o pirata espacial aposentado Rok Olor. Entre os saques que efetivou anos atrás está a gema que queremos.
     -- Bom, disse Quorn. Não será difícil conseguir a gema dele uma vez que tire Futuro do caminho. E as outras duas?
     Estão no Planeta dos Prazeres, aquele asteroide paraíso da jogatina fora dos limites legais do Sistema. Bubas Uum, o gordo espoliador de jogadores viciados, possui ambas. Ele as conseguiu dos donos anteriores que entraram lá e gastaram suas fortunas inteiras no jogo.
     -- Sim, estas serão difíceis, refletiu Quorn. Bubas Uum não é tolo. Considere feito. Vou me livrar de Futuro e de seus associados impertinentes e aí rumo para Deimos. De lá, largo o circo e faço uma visita ao Planeta Recreação para pegar as que faltam.
     -- Doutor Quorn, não pode nos dizer qual é o segredo de Thuro Thuun? Si Twih indagou com hesitação. Sois o único no sistema que deve ter uma leve ideia do que seja. Eu sei que não tens certeza ainda, mas creio que os líderes da organização deveriam saber o que haveis inferido até agora.
     Quorn sacudiu a cabeça.
     -- Não Si Twih. Não quero inculcar-lhes falsas noções. Não terei certeza até possuir toda a coleção de gemas e entender qual é a fórmula de Thuro Thuun. Mas vos digo isso: se minhas deduções estiverem corretas, o possuidor de tal segredo terá poder absoluto sobre mundos inteiros!
     O trio de marcianos ficou a olhá-lo sem ação.
     Nesse meio tempo, N'rala descansava, à espera, na fria e pouco iluminada sala nos andares acima. A graciosa marciana, impaciente com a demora, desceu novamente ao salão. Já no último degrau, se empertigou como um gato pantaneiro farejando perigo, e sacou uma pequena pistola atômica do corpete.
     -- Mis Sigu! balbuciou. Por que estaria ainda por aqui?
     O salão circular estava deserto pois os membros da seita já haviam se dispersado, com exceção de um. Era o grisalho syrtisiano que desafiara Quorn minutos atrás e agora se encontrava agachado à porta da sala onde ocorria a reunião com o trio de líderes.
     -- Um espião! sussurrou N'rala com ódio. Nenhum animal furtivo no sistema inteiro seria capaz de se mover tão silenciosamente como ela ao se aproximar de Mus Sigu ouvindo atrás da porta. N'rala encostou o cano da pistola contra a nuca do bisbilhoteiro.
     -- Vire-se e nada de gracinhas, ordenou.
     Mus Sigu virou-se assustado, mas naquele momento de surpresa, a face do homem pareceu diferente. 
     Ele recobrou o controle de si e notou que aquele momento foi suficiente para revelar sua identidade.
     -- Você! murmurou N'rala. Você não é Mus Sigu. Você é o Capitão Futuro!



(continua... capítulo 11: Na Lua Marciana) 
 





20 outubro 2019

Capitão Futuro e as 7 Gemas Espaciais (Capítulo 9)


Desafios para os Homens do Futuro
  
     Ul Quorn vinha na direção deles como se passeasse pelas imediações. Não se viam o Auscultador e tampouco o dispositivo cônico que quase matou Curt. Quorn envergava um sorriso no belo rosto encarnado. Se expressou com humor frio e tentou soar aprazível. 
     -- Deixe-me parabenizá-lo pela escapada, Kovo. Eu vi tudo. Muita sorte a sua escapar à morte.
     Apesar da raiva, Curt Newton sorriu amarelo. Ul Quorn apelava para o cúmulo da audácia. Sabia muito bem que Quorn suspeitava de sua identidade, e sabia que Quorn sabia disso também. Mesmo assim, o mestiço o encarou sem medo.
     -- Os tigres saíram um pouco do controle hoje na arena, Curt admitiu a falsa negligência. Mas eu sempre consigo retomar as rédeas.
     Ele fazia uso de um dialeto venusiano falado pelos habitantes dos charcos embora Quorn não seria enganado tão facilmente assim. Quorn sorriu.
     -- Essa carreira que escolheu é perigosa, Kovo. Jamais pensou que um dia possa tentar a morte muito de perto?
     Curt percebeu a ameaça na pergunta e sorriu de volta.
     -- Domar feras é meu ganha-pão. Já subjuguei várias em minha vida.
     -- Não duvido, murmurou Quorn. Mas não existe sempre o perigo de um dia se ver frente a frente com uma que não consiga?
     Mais uma ameaça velada. Futuro soltou uma resposta à altura.
     -- Decerto que sim, Doutor Quorn, admitiu animado. Posso muito bem topar com uma fera muito ardilosa para minha destreza. Contudo, domei todas as que já existem nesse sistema, e ainda busco por esta a que se refere. 
     Uma sombra passou tênue pelos olhos negros e provocantes do mestiço, mas logo se esvaiu...
     -- Talvez você ainda não tenha topado com um antagonista de seu calibre, disse devagar. Talvez seja mais sábio, quando encontrá-lo, se abster de usar força física e...
     Uma babel de gritos e altercações o interrompeu. Vinham diretamente do camarim dos membros da trupe de Quorn. O Lobo Lunar veio correndo direto para Quorn com os olhos brilhando de medo.
     -- Um larápio foi pego em sua sala privativa, Doutor Quorn! O Auscultador o pegou.
     Quorn cravou os olhos suspeitos em Futuro e saiu logo atrás do Lobo.
     -- O que vamos fazer, Simon? disse ansioso. Otho deve ter sido pego.
     Simon Wright ficara parado em silêncio dentro do cilindro enquanto Curt e Quorn se estranhavam. E agora respondeu com voz metálica abafada.
     -- Aquele androide idiota é mestre em se meter em apuros.
     -- Tenho que ir lá, declarou Futuro ansioso. Pode ser que Quorn queira puni-lo com aquele desintegrador que usou em Lester.
     -- Ele não usou a arma antiga com você hoje, lembrou o Cérebro.
     -- Mas isso foi por que ele não quer se expor usando-a em público, com testemunhas. Ele queria deixar a entender que foram os tigres que me atacaram. Otho está em perigo mesmo! Espere aqui, Simon. Você não deve ser visto falando e rolando por aí.
     Capitão Futuro seguiu o vozerio que vinha do camarim de Quorn.
     Todos os esquisitos rodeavam Quorn e a marciana N'rala. De rosto fechado e ameaçador, Quorn confrontava o ganimedeano abusado sob a mira das pistolas atômicas empunhadas pelo Auscultador e o Homem Camaleão.
     -- Você é o novo acrobata do circo, Quorn pressionou. Por que se encontra em minha propriedade?
     -- Não precisam esquentar os foguetes, Otho respondeu arrogante. Sou novo por aqui e sem querer acabei aqui dentro.
     -- Ele mente, Doutor, acusou o Auscultador. Quando voltava para deixar o instrumento que me mandou guardar, ouvi esta criatura cascavilhando seus pertences.
     -- Um espião, então? Quorn pronunciou com calma mortífera. É claro, já deveria saber. O Ultra Acrobata, o único ser no sistema capaz de realizar feitos impossíveis.
     -- Foram bons eles, não foram? perguntou Otho calmamente. Com certeza meu show agradou muito à plateia hoje.
     -- Um exagero de bom, replicou Quorn. Você conseguiu entregar sua identidade também.
     Os olhos de N'rala cintilaram em fúria felina.
     -- Quer dizer... que ele é um deles? indagou. Então não há tempo a perder.
     Do meio do círculo formado pelos membros esquisitos apareceu a figura do Homem Colossal.
     -- O senhor quer que eu leve este intruso daqui e o parta ao meio, chefe? berrou Grag.
     -- Não, disse Quorn. Há outras maneiras.
     Curt achou por bem intervir antes que Otho e Grag precipitassem uma crise.
     Ele abriu passagem por entre os monstrengos. Ul Quorn se virou abruptamente.
     -- Você? exclamou. E sorriu. Deveria saber...
     -- Soube que o Ultra Acrobata estava com problemas, Curt se intrometeu. Ele é amigo meu, sabe? É claro que ele só entrou aqui por acaso. Eu o deixaria ir, se fosse você.
     -- Tenho certeza que deixaria, não é mesmo? murmurou Quorn. E caso eu não queira?
     A mão de Curt coçou o punho da arma de prótons guardada no bolso da jaqueta. Seus olhos fulminavam Quorn com faíscas.
     -- Caso não queira, falou lentamente, sua consciência pode não o deixar dormir.
     O círculo de esquisitos se abriu com a tensão como se uma parede eletrificada surgisse entre os dois homens. Os olhos de N'rala espelhavam ódio.
     -- Você vai deixá-lo levar o espião? ela instigou o mestiço.
     -- Claro que sim, disse Curt com uma risada zombeteira. É isso ou tentar me deter.
     Curt provocava Quorn abertamente pois esperava que ele aceitasse o desafio e sacasse a arma, o que daria a Curt a chance de enfrentá-lo em luta justa e de uma vez por todas. No fundo temia que o hábil mestiço fosse mais rápido que ele em sacar. Mas Quorn sorriu enigmático.
     -- Você correria o risco de uma luta aberta, não é? dirigiu-se ao Capitão. Não vai funcionar. Não vou arriscar perder uma luta dessas com você. Não vou sacar minha arma. Sei muito bem que como campeão da lei, você não me forçará a isso.
     Curt fingiu espanto, embora entendesse perfeitamente.
     -- Vamos, pediu Otho, estes caras estão aparvalhados, eu acho.
     Saindo da sala, Curt ouviu Grag falar alto.
     -- Chefe, alguém perdeu minha máquina. Se eu souber quem foi, eu vou quebrar ao meio!
     -- Vá procurá-la e não me aborreça com isso, dispensou-o Quorn. Tenho mais em que pensar.
     Curt e Otho caminharam até estarem bem longe do pavilhão de Quorn, receando as habilidades do Auscultador. Só se falaram ao se aproximarem da passagem onde o cilindro havia se estacionado.
     -- Você bagunçou as órbitas lá dentro, Otho. Como é que conseguiu ser visto?
     -- Foi aquele maldito orelhudo! jurou o androide. O cara só pode ser muito esquisito mesmo. Tive todo o cuidado para não fazer um clique sequer, e mesmo assim ele deu o alarme.
     -- Você não encontrou as gemas, encontrou?
     -- Não, elas não estão na sala. Olhei tudo. O safado deve carregá-las consigo. Vou pegá-lo de surpresa e arrancá-las dele. Vai ser fácil.
     -- Deixa pra lá, ordenou Curt. Ele não as carrega com ele. A primeira coisa que fiz quando cheguei foi escaneá-lo na surdina e me certifiquei que não as leva junto ao corpo.
     Ao chegarem na passagem onde Simon esperava, Grag os alcançou correndo. No escuro, Curt sussurrou para os três Homens do Futuro.
     -- Não devemos ser vistos juntos para não levantar suspeitas, Simon. Quorn sabe que sou o Capitão Futuro e Otho é o Ultra Acrobata, mas ele não suspeita de vocês dois. Então... as quatro gemas espaciais não estão com Quorn e tampouco em seu camarim, portanto, só pode estar na nave deles, o modelo Rissman que os transporta durante a turnê do circo.
     -- Nossa melhor oportunidade será, então, quando Grag e eu estivermos lá dentro a caminho da próxima parada que é Marte, previu o Cérebro.
     -- O circo vai partir dentro de uma semana para Marte, para Korak, complementou Curt. Sim, é melhor não tentarmos mais nada até que estejam indo para lá. Grag, obedeça às ordens de Simon.
     -- Claro, mestre, bradou o robô obediente. Mas temo por você. Quorn vai usar o desintegrador ou achar outro meio para tirá-lo do caminho.
     -- Eu e Otho vamos cuidar um do outro. Creio eu, que Quorn não vá empreender nada contra nós até chegar a Korak. Vai ficar preocupado em obter as gemas restantes em solo marciano.
     -- Eu ouvi, por acaso, N'rala trocar umas palavras com ele. O que eu entendi foi que os membros do culto fanático, Os Filhos das Luas Irmãs, estão encarregados de conseguir a informação do paradeiro das outras pedras.
     -- Então é isso! soltou Curt. O salafrário do Quorn está usando os marcianos fanáticos! Não podemos deixar isso acontecer e permitir que o segredo de Thuro Thuun, qualquer que seja ele, caia nas mãos desse enjeitado inescrupuloso.
     -- Mas que inferno! Por que não pegamos essa corja toda de conspiradores e enfiamos todos na Prisão, desabafou Otho furioso.
     -- E lá podemos provar um fio de cabelo sequer contra eles? Curt retorquiu igualmente fulo. Não, concorda? Pelo menos até realmente encontrarmos as quatro gemas em sua posse. Como disse Simon, nossa melhor chance será agora quando eles partirem para Marte e ele e Grag conseguirem vasculhar a nave. Vou avisar a Ezra e Joan para que rastreiem o circo da Cometa. Melhor não nos encontrar mais até chegarmos à Marte. Tente achar as gemas, Simon.
     -- Certo, filho, assentiu com voz metálica. E você, se cuide, pois Quorn vai com certeza vir para cima de você cedo ou tarde.
     Contudo, na semana que se passou, Quorn não atentou contra a vida de Curt, e nem Otho se sentiu acuado. Na noite da véspera de viajarem, Futuro estava apreensivo.
     -- Quorn tem algo na manga contra nós, murmurou ao observar o movimento de vai e vem dos membros da companhia a carregar os pertences no bojo do iate ligeiro Rissman. O que eu não daria para saber o que é!
     -- Vamos acabar com essas artimanhas dele em Marte, jurou Otho.
     As naves do circo começaram a levantar voo com os foguetes trovejando. Os potentes cargueiros Cruh-Cholo se arremessaram ao céu primeiro, seguidos pela Rissman de Quorn. Curt observou tudo com esperança ao partir também para Marte.
     





(continua... capítulo 10: Os Filhos das Luas Irmãs) 
 




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