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29 novembro 2019

Capitão Futuro e as 7 Gemas Espaciais (Capítulo 15)



O Eremita Espacial
  
     Curt viu o iate Rissman soltando chamas dos propulsores para alcançá-lo. A intenção de Quorn era clara: atropelá-lo com a proa da nave! Curt flutuava no espaço e esperou. Precisou de nervos de aço para ficar observando impassível enquanto a assassina se aproximava. Não acionou um botão sequer até que a Rissman chegou a poucas centenas de metros. Com um empuxo do propulsor ele conseguiu voar para o lado enquanto a nave passou raspando, o clarão dos foguetes doeu na retina. O iate fez uma curva muito fechada para evitar um meteoro e saiu girando até que se estabilizou e voltou a repetir a manobra contra Curt.
     -- Dessa vez, não, Quorn! disse com os dentes cerrados.
     Ao escapar do atropelamento, o empuxo do propulsor o levou com toda a potência em direção a um dos aglomerados de asteroides que viajavam veloz dentro do cinturão entre Marte e Júpiter, hora se amontoando, se batendo, hora se afastando.
     Em pouco tempo ele se juntava às rochas itinerantes, e tudo o que precisava fazer era confiar em seus reflexos para não ter sua carreira abalroada por uma delas.
     Soltou uma risada vendo a Rissman se desviar do caminho do enxame de meteoros e desistindo da perseguição. Ul Quorn não iria se aventurar e arriscar-se a seguir Curt para dentro do enxame. Viu o iate mudar o curso e desaparecer no cinturão.
     -- Indo certamente pegar as gemas de Bubas Uum antes que eu possa interferir, Curt palpitou. Agora, onde está o planetoide do Ermitão? Se puder contatar a Cometa de lá ainda dá tempo de atrapalhar a órbita de Quorn.
     Nenhum ser era capaz de conhecer nem metade da complexa área do cinturão. Entretanto, Futuro sim, e melhor que qualquer outro. Alguns de seus amigos moravam em alguns daqueles pequenos mundos. Um deles era o Ermitão Espacial. Curt se certificou de que o planetoide onde ele morava ficava nas imediações.
     Emergiu apreensivo de dentro da massa de rochedos ameaçadora e perscrutou à volta esperando localizar a olho nu o pequeno ponto verde que era a residência do Ermitão. Acionou o propulsor e em pouco tempo flutuava sobre a superfície.
     Era um mundinho coberto de florestas e jardins com uma atmosfera clara e fina, espelhos d'água, flora e fauna abundantes e alienígenas. O Capitão Futuro voou em direção a uma clareira aberta na floresta. Mesmo freando na queda, rolou várias vezes por sobre o gramado. Levantou-se arfando.
     -- Onde será que se meteu o velho? Ele odeia qualquer tipo de tecnologia, mas deve ter algum comunicador por aqui para uso em emergências.
     Curt começou a perambular pela floresta numa espiral aberta e acabou se deparando com uma picada bem batida que o levou a um laguinho. Aproveitou a oportunidade para se despir do disfarce agora inútil do Camaleão e continuou pela picada mata adentro.
     A luz do Sol bem pálida se filtrava pelas copas das árvores de troncos verdes grossos. Pequenos animaizinhos um tanto grotescos, revoavam. Eram como pequenos coelhos, peludinhos, que mordiscavam os ramos mais altos. Curt se entreteu observando as outras formas de vida indígena do mundo arborizado. Algumas entravam nos troncos e os consumiam por dentro, outras voavam em formação tão estreita que perfuravam qualquer coisa em seu caminho, como uma broca.
     -- Bem, cá estamos! exclamou contente. Entrou numa clareira fechada que continha uma cabana feita de troncos verdes e teto de palha donde sobressaía uma chaminé. No quintal da frente, ajardinado, havia alguns animais pastando despreocupados próximos à uma porteira de madeira.
     -- Olá! Ermitão? gritou alegre. Você tem visita!
     A porta da cabana se abriu com estrondo revelando a figura idosa de um terrano de barbas longas e cabeleira grisalha. Vestido com roupas de couro cru, ele brandiu um tacape ameaçador para Curt.
     -- Cai fora do meu asteroide! o velho bradou com raiva. Não vou tolerar curiosos virem aqui me perturbar e...
     Parou e observou com mais atenção o 'estranho'. Reconheceu a efígie alta e ruiva do Mago da Ciência e sua raiva esvaneceu.
     -- Capitão Futuro! se alegrou e largou o tacape. Mas aí é outra história! Você pode chegar a qualquer hora, mas tenho tido visitantes por aqui recentemente que estão me deixando louco.
     -- Tantos assim? indagou Curt.
     -- Olha, teve um explorador mercuriano há dois anos, e dois jovianos a procura de metais ano passado. Vou ter que voltar a morar em um desses planetas apinhados de gente se começar a aparecer hordas de intrusos por aqui.
     -- Mas... três visitantes em dois anos? É muita gente mesmo, gracejou Capitão Futuro.
     -- Uma multidão! exaltou-se. Se continuar assim, vou ter que achar outro asteroide.
     Os dois eram amigos há anos. O ermitão se opunha ao fanatismo tecnológico, achava que a paixão pelo progresso científico não era certa. Desiludido com a civilização super tecnológica na Terra, buscou por um rochedo espacial bem remoto para fixar residência. Certa feita, Curt havia escorraçado uma gangue que intentou criar uma base no asteroide. Por isso, Curt era o único tolerado. 
      -- Onde está sua nave? O ermitão perguntou com espanto.
     Quando Curt lhe contou a história, o velho esbravejou.
     -- Eu sempre te falei que suas andanças pelo espaço iam te trazer problemas! É isso que dá quando as pessoas se enfiam nessas naves e máquinas dos infernos e esquecem a vida simples natural.
     -- Tenho que contatar os Homens do Futuro para virem me pegar na Cometa. Você guarda um comunicador, por acaso? 
     -- Comunicador? o recluso soou ofendido. Jamais teria uma máquina dessas no meu mundo! Outro dia eu me vi usando uma alavanca de máquina para arar a terra. Joguei-a fora! Não vou permitir nenhuma máquina idiota entrar aqui.
     -- Certo, certo. Não precisa queimar seus foguetes por isso. Curt acalmou-o rápido. Acho que consigo fabricar um. Tenho alguns instrumentos no cinto. Foi sorte eu ter pego eles do corpo do meu 'sósia'.
     -- A ideia de construir um aparelho aqui não me agrada, mas como é uma emergência..., reclamou o ermitão.
     O velho recluso olhou com desagrado o Capitão Futuro começar a montar um transmissor a partir de materiais comuns. Era uma tarefa que somente o Mago da Ciência poderia executar. Pegou os instrumentos e ferramentas compactas que sempre trazia no cinto e juntou o material que precisava. O instrumento de solda portátil derreteu certos minerais para transformá-los em glassite e em seguida moldá-los em 2 tubos grandes. Os acessórios de metal de seu traje espacial viraram conexões e fiação. Futuro não se estressou em criar uma tela para o transmissor pois a comunicação de áudio seria mais que suficiente. 
     Curt trabalhara tranquilo sendo assistido pelos animaizinhos de estimação curiosos do ermitão à sua volta. O idoso continuou a repreendê-lo com severidade.
     -- Toda essa parafernália de voar e se aventurar no vazio com essa palhaçada tecnológica. Como alguém pode ser feliz assim? As pessoas eram mais felizes no passado da Terra, quando não existia tecnologia e viviam uma vida normal e natural.
     -- De acordo com seu ponto de vista, Curt sorriu, as pessoas viviam mais felizes mesmo sendo bárbaras ignorantes, sem nem mesmo o fogo.
     -- Você está torcendo minhas palavras, reclamou. Você é que nem os outros, não sabe argumentar em uma discussão.
     Capitão Futuro terminou a tarefa, criou um transmissor tosco mas eficiente que rodava com uma bateria química de sais.
     -- Tem que funcionar, pensou. Até onde eu calculei, está sintonizado na frequência da Cometa que eu sempre uso. Bem, vamos ver. Capitão Futuro para a Cometa! Estou no asteroide do Ermitão Espacial. Venham logo.
     Repetiu a mensagem alto para o microfone em intervalos de cinco minutos. Desligou o aparato depois de uma hora.
     -- Só me resta aguardar agora. Devem ter recebido.
     -- Não vai funcionar, você vai ver, profetizou o Ermitão. As máquinas sempre nos deixam nas mãos quando mais precisamos delas. Mas enquanto você espera, que tal fazermos um lanche?
     
     As sombras se alongaram por sobre a pequena clareira à medida que o dia do pequeno mundo findava. O Ermitão trouxe algumas frutas e umas plantas estranhas cozidas. Ele e o ermitão comeram em uma mesa no alpendre da cabana. Curt olhou para o céu cravejado de estrelas e constantemente atravessado pelo flash dos meteoritos. Lá dentro, no meio da escuridão das estrelas estava o ponto amarelo do Planeta dos Prazeres.
     -- Quorn já deve estar chegando lá, e preparando a última jogada. Curt preocupou-se. Por que os Homens do Futuro não dão notícia?
     -- Não ofereço carne pois os animais aqui são muito pacíficos, não suportaria matá-los para comer, disse o ermitão. Olhe aquele ali. É um mímico. Já viu um? 
     Os mímicos dos asteroides eram animais assim chamados pois eram encontrados somente nos maiores corpos rochosos do cinturão. Tinham corpos globulares brancos e pernas amorfas com dois olhos esbugalhados. Sua habilidade principal era mudar a forma e aparência do corpo à vontade. Eram metamorfos, imitavam qualquer forma relativa a seu tamanho.
     Um deles estava bisbilhotando o transmissor e de repente, deu um giro em si mesmo, e lá estavam dois transmissores no chão! Mas logo voltou à forma animal.
     -- Está vendo? Inteligente ele, não é? riu-se o velho. Eles estão sempre a me enganar, se transformando em um utensílio. Um incômodo, isso sim!
     Curt recusou o convite do Ermitão de dormir na cabana, e ficou sob as estrelas do asteroide. Acordou com a fraca luz da aurora em seus olhos que perscrutaram sem sucesso os céus em busca da nave.
     Tentou apanhar seu cinto no chão e descobriu um cinto extra igual ao seu, que se transformou no mímico em sua mão.
     -- Seus amigos ainda não apareceram, né? disse o ermitão parado na porta e penteando a barba. Eu sabia. As máquinas sempre nos deixando na mão, eu te disse... Agora você pode largar isso tudo e viver aqui comigo, uma vida natural sem essa baboseira de ciência!
     -- Eu não! exclamou Curt. Lá vem a Cometa!
     Os ouvidos detectaram o ruído de serra elétrica que só podia vir de um motor em todo o Sistema. Da direita, veio a nave e aterrissou levantando poeira na clareira.
     Otho, Grag, o Cérebro, Joan e Gurney correram para fora. 
     -- Chefe, nem acreditamos quando recebemos a chamada! disse Otho, com os olhos brilhando de contentamento.
     -- Pensamos que estivesse morto, Mestre, bradou Grag. Encontramos seu corpo no espaço e até fizemos um funeral. O que houve?
     Curt lhes forneceu um relato breve dos acontecimentos anteriores. Ezra Gurney estapeou os joelhos deliciado com a história.
     -- Você realmente conseguiu enganar aquele lobo do Quorn, bem feito! ladrou o veterano. O truque do doublé ainda funciona bem, não é?
     A expressão no rosto da Joan mostrava uma alegria plácida.
     -- Estamos felizes de ter escapado ileso, filho, disse Simon austero, mas cujas palavras tinham peso.
     Otho entregou o anel-emblema para Curt.
     -- Tirei do seu corpo, Chefe, como uma lembrança.
     -- Ainda bem, agradeceu Curt. Odiaria ter perdido meu anel. Quorn teria notado algo estranho se não estivesse no dedo do doublé. Eu ia procurar ele mais tarde no espaço. Gravei na memória o local exato, a velocidade e direção que o corpo tomou. Mas agora, vamos direto ao Planeta dos Prazeres. Acho que o último round da busca pelas gemas espaciais e pelo segredo de Thuro Thuun vai ser travado lá.
     -- Por todos os santos do Sol, o que é isso? soltou Otho.
     Ele olhava para o mímico do asteroide. Tentava se transformar em um coelho alado que voava por cima deles. Voltou logo à sua forma original após ser bem-sucedido. O Cap. Futuro apresentou a espécie nova que Otho desconhecia.
     -- Mas ele é o melhor artista de disfarces do Sistema inteiro, exceto eu mesmo, claro! revelou Otho invejoso. Acho que ele seria um belo rival para o ursinho de Grag, não é? Ihk não vai ter nenhuma chance contra uma criatura inteligente dessas.
     -- Você está bêbado! gritou Grag. Garanto que o Ihk vai usar essa coisinha presunçosa para lavar o chão da Cometa!
     -- Posso levá-la para mim? Otho perguntou ao ermitão.
     -- Claro, leve-a! O bichinho só me atrapalha!
     Otho pegou o mímico. O animal olhou-o amistosamente e, sem aviso, alterou sua forma para imitar o equalizador de gravidade grudado no torso de Otho. Voltou à sua forma em seguida.
     -- Então vendo? Ele gosta de mim! alegrou-se. Vou te chamar de Ug.
     -- Você só está levando o bicho porque acredita que ele vai ganhar do Ihk! acusou Grag. Duvido! Você vai ver... Ihk vai comer ele vivo!
     -- Cumpro seu turno durante um ano inteiro se Ug não nocautear aquele boboca do Ihk em cinco minutos, desafiou Otho.
     -- Eu é que vou te render por um ano se o Ihk não levar mais que dois minutos para acabar com ele, rugiu Grag.
     -- Está apostado, disse Otho. Vamos ver quem ganha, então.
     O androide e o robô raivoso se apressaram para entrar na Cometa. Os outros rumaram para a nave também, e Joan perguntou preocupada:
     -- Os dois animais não vão se machucar?
     -- Eu os separo antes, assegurou Curt. Veremos quem esfrega o chão primeiro, Ug ou Ihk.
     
     Entraram na Cometa. Ihk, o ursinho pequeno e cinza, que mascava uma peça de cobre, veio trotando feliz em direção ao Grag quando este lhe chamou pelo nome. O bichano lunar se retesou e ficou olhando para os olhos grandes de Ug ao ser posto no chão por Otho. Os dois ficaram se olhando em cerimônia solene.
     -- Vamos, Ug, acabe com ele! instigou Otho. Rasga ele todo! Ele é um covardão.
     Grag bradava a mesma mensagem ao seu bichano e repetia telepaticamente ao mesmo tempo:
     -- Pegue ele e esfregue o chão da nave com essa bola gorducha, Ihk! Sem pena!
     Todos assistiam a cena: Ihk e Ug se aproximaram cara-a-cara e se cheiraram. Daí, para surpresa geral e consternação de seus donos, os animaizinhos começaram a pular, rolar e correr pela nave.
     -- Mas que raios! Ficaram amigos! gemeu Otho ressentido. Vamos Ug, pega esse urso idiota!
     Nenhum grito de guerra foi suficiente para fazer os dois bichinhos se pegarem em luta. Se comportavam como dois irmãos separados há anos. No final, em um rompante de alegria e excitação, Ug usou suas habilidades e se metamorfoseou em uma cópia de Ihk. Ezra gargalhou com vontade.
     -- Você agora tem dois ursinhos, Grag!
     -- Qual deles é o Ihk? preocupou-se Grag.
     Ug resolveu o enigma ao retornar à sua forma globular. Se aproximou de Otho e se esfregou em sua perna.
     -- Você me desapontou, Ug, grunhiu Otho. Como foi se amasiar com esse aí?
     -- Certo, então, Futuro interrompeu o show. Temos que ir agora. Até mais, Ermitão! gritou para o velho da escotilha da Cometa antes de fechá-la. Da próxima vez, vou te trazer uma unidade geradora.
     -- Você sabe muito bem que eu não quero nenhuma das suas engenhocas malditas! gritou o eremita idoso.
     Alçando voo, todos observaram o recluso pegar um cajado e esmigalhar o transmissor construído por Curt.
     -- Um mundo sem tecnologia, riu-se Gurney.
    Grag assumiu os controles. Os foguetes rugiam à toda potência enquanto a Cometa tomava o rumo do Planeta dos Prazeres pela zona apinhada de asteroides.



(continua... capítulo 16: O Planeta dos Prazeres)  




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