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31 outubro 2019

Capitão Futuro e as 7 Gemas Espaciais (Capítulo 11)


Na Lua Marciana
  
     No mesmo instante, Capitão Futuro, mascarado como Mus Sigu, sentiu o perigo e, antes de N'rala poder gritar, agiu com toda a presteza e prontidão que o tornava perigoso quando encurralado. Na arte do eco-ventriloquismo ninguém era-lhe páreo naquele Sistema.
     Em um segundo seus olhos fotografaram o ângulo das paredes à volta e decidiu virar-se um pouco. Sem mover os lábios ou a garganta, falou com a voz grave e retumbante de Grag, o robô. Uma projeção de voz tão calculada que parecia vir logo de trás da marciana.
     -- Devo matá-la, mestre?
     Os olhos da mulher quase saltaram das órbitas. Virou-se como uma gata assustada e no mesmo segundo lembrou-se dos truques do Capitão Futuro, girou rápido de volta, mas já era tarde! Curt Newton tapou sua boca e agarrou-lhe o punho que segurava a arma.
     -- Sabia que cairia nessa, sorriu Curt. Pare de se debater!
     N'rala se debatia com fúria mesmo. Curt resolveu pressionar um nervo vital em sua têmpora com o dedo, e a mulher desmaiou na hora. Segurando-a como um saco vazio, Curt prestou atenção e não ouviu sinais de alarme do outro lado da porta, havia usado um tom baixo de voz na imitação de Grag.
     -- Melhor acionar os foguetes e sair a jato daqui agora mesmo, murmurou. Seus olhos cinzas faiscando nervosos. 
     Levantou a marciana inconsciente e saiu da torre.  As ruas de Korak estavam escuras, silentes, e geladas com os ventos polares. Poucas pessoas se aventuravam ao relento. A maioria fora ver o Circo cujos pavilhões eram erguidos próximo ao espaço porto.
     Futuro conhecia Korak como conhecia todas as capitais dos nove mundos. Caminhou sem barulho pelas vielas e arcos parcialmente em ruinas e, procurando se manter fora da luz do sol refletida por Phobos e Deimos, emergiu em uma praça ampla do outro lado do espaçoporto. Nada se via por lá, somente redemoinhos de areias formadas pelo vento. Longe, ao norte, via-se os picos brilhantes das neves polares.
     -- Ezra e Joan deveriam estar bem aqui com a Cometa, disse arfando. Se Quorn conseguiu de algum jeito atrasá-los...
     -- Está ficando lento, né, Futuro? A voz fez ele se virar rápido, sua arma de próton já sacada. Ezra Gurney saiu de trás de uma duna fora de vista. O rosto enrugado do velho estampava um sorriso de contentamento.
     -- Assustei você, né? É a primeira vez que te pego de surpresa.
     -- Devo estar ficando lento mesmo, lamentou-se Futuro. Você é a segunda pessoa hoje.
     -- O que tem aí? Ezra perguntou ansioso. Não é a garota marciana do Quorn aí nos seus ombros? Apanhou ela onde?
     -- Ela me apanhou, admitiu Curt. A infeliz quase me apanhou enquanto eu escutava atrás da porta. Me deu um baita susto! Onde está a Cometa?
     Logo ali entre as dunas, disse Ezra mostrando o caminho. Eu e Joan ficamos esperando aqui desde que detectamos você e o circo chegarem.
     Foi um alívio para Curt ver a nave  escondida entre duas dunas altas. Ao entrar na cabine-laboratório, Joan Randall correu em sua direção mas parou abrupta.
     -- Quem é essa aí? franziu a testa reprovando a marciana que ele acomodou em uma poltrona.
     -- Ficou enciumada, é? provocou Ezra.
     -- Claro que não! negou Joan ruborizando. E o Doutor Quorn?
     Curt lhes passou todo o ocorrido desde que se juntou ao circo.
     -- Quando cheguei aqui com o circo, descobri com a polícia que um tal de Mus Sigu era um conhecido membro dos Filhos das Luas Irmãs. Decidi entrar na organização e estar lá quando Quorn expusesse seus planos. Aí, fiz com que Mus Sigu fosse detido, me disfarcei e tomei seu lugar. Também soube de uma coisa antes de ser surpreendido por N'rala.
     "Duas das três gemas espaciais ainda estão em poder de Bubas Uum, proprietário do Planeta dos Prazeres. A outra está em Deimos, cujo dono é um tal pirata espacial aposentado de nome Rok Olor."
     -- Rok Olor! Ezra quase engasgou. Mas ele desapareceu há trinta anos. Faleceu, ao que parece.
     -- Não morreu, Ezra. Aposentou-se como um respeitável e honrado cidadão em Deimos.
     -- Mas que raposa velha! praguejou Ezra. Ele sempre foi um trapaceiro descarado, o maior do Sistema. Por várias vezes escapou das minhas patrulhas; e isso depois de semanas atrás dele.
     -- Vou para Deimos agora pegar essa gema antes de Quorn, disse Curt.
     -- Vou com você! soltou Ezra. Espere só até aquele traste me ver entrando lá e o levando preso depois desse tempo todo!
     -- Vamos levar só algumas horas para ir e vir de Deimos, continuou Curt. Levaremos N'rala conosco, ainda quero lhe fazer umas perguntinhas. Enquanto isso, quero que você leve uma mensagem para o Otho, Joan. Diga-lhe que crie algum estardalhaço durante a apresentação dele hoje à noite no circo.
     Joan assentiu.
     -- Certo, vou agora mesmo. Daí volto e te espero aqui. E saiu da nave disparando pelo terreno seco e enluarado em direção às luzes de Korak.
     Com as mãos do Capitão Futuro nos controles, a nave-gota zuniu céu afora, chiando os motores através da atmosfera rarefeita de Marte. Voava à toda rumo ao globo brilhante que era Deimos.
     Sentado de olhos fixos na janela da proa, vendo o pequeno disco do satélite marciano aumentar de tamanho, Ezra Gurney ansiava pelo encontro.
     -- Quando eu puser minha mão naquele canalha velho do Olor...! continuava as promessas. Cair bem em cima dele depois de anos!
     -- Temos que encontrá-lo primeiro, lembrou Curt. Ele deve estar vivendo com um nome falso. Contate o escritório da Polícia Planetária marciana em Systis, descreva Olor como você o conheceu e indague se há alguém rico com esse perfil.
     Ezra obedeceu. Curt se despiu do disfarce de Mus Sigu. Removeu as bochechas de cerumita do rosto, lavou a pele avermelhada e se livrou das próteses das pernas que davam aparência marciana à postura. Ezra se aproximou com novidades.
     -- Armador aposentado vivendo próximo ao polo sul de Deimos. Anda com a alcunha de Xex Iza e se enquadra na descrição. É ele!
     A Cometa começou logo a descer: o lado noturno mostrava um pequeno mundo com propriedades profusamente ajardinadas. Deimos fora reformada, ganhando atmosfera respirável e coletores de água, se tornou o destino residencial favorito dos marcianos mais abastados que utilizavam equalizadores de gravidade para viverem confortavelmente. Curt alunissou não muito longe de uma mansão de liga de cromo. Pequena, mas com arquitetura única no meio de jardins de paisagismo em estilo tradicional marciano. 
     -- Lá está a casa, apontou Futuro. Venha Ezra.
     -- E essa garota? indagou.
     N'rala continuava desacordada na poltrona da nave.
     -- Ela não vai acordar, garanto, explicou Curt.
     Ele e o veterano saíram para a pálida noite de Deimos. Marte brilhava como uma enorme lua vermelho-pastel. Flores faziam a noite quente suavemente fragrante. Era fácil perceber por que os ricos marcianos preferiam essa luazinha verdejante à Marte. 
     Eles apertaram o passo até a casa. Os equalizadores de gravidade se ajustaram automaticamente à atmosfera mais leve.
     -- Imagine a cara de Olor quando me ver e se der conta de que vai parar na Prisão de Cérberus! comentou Ezra.
     Entrando na casa, uma  criada marciana os recebeu no saguão revestido de mármore e levemente iluminado.
     -- Somos dois amigos para o Sr. Iza, disse Curt. Preferimos não sermos anunciados pelos nomes para não estragar a surpresa.
     Ouviram passos claudicantes. Um marciano baixo e encarquilhado pela idade avançada, com uma fisionomia orgulhosa apesar das cicatrizes, e olhos brilhantes, entrou no vestíbulo. Ao ver Ezra Gurney, se retesou.
     -- Pelos demônios de Marte! Capitão de Patrulha Gurney!
     -- Marechal Gurney agora, Rok, retificou Gurney. Surpreso em me ver? Achou que a polícia jamais chegasse a você?
     Rok Olor estremeceu e pareceu que sua figura ia desabar, mas levantou a cabeça calva e desafiou:
     -- Não, Gurney, sempre achei que vocês me encontrariam. Tentei me iludir nesses anos, pensando que era besteira, que estaria a salvo aqui até meu fim, mas bem no fundo, a certeza me faltava. Vocês jamais desistem.
     -- Bem, Rok, falou em tom de consolo, o fato é que eu te achei aqui meio por acaso, sabe? Este aqui é o Capitão Futuro. A pista veio dele.
     Rok Olor deu uma longa olhada em Curt.
     -- Então, você é o tal Capitão Futuro de quem todos falam, disse por fim. Você deve ser mesmo tudo o que dizem para ter me descoberto aqui.  Creio que tenha superado em esperteza a todos nós piratas dos tempos áureos.
     -- Desculpe-me ter lhe desmascarado assim, Rok Olor, disse Curt sem graça. Mas tente entender que as acusações contra o senhor ainda não expiraram e Ezra deve levá-lo.
     -- Sei disso. Não estou pedindo clemência.
     -- Pode me ajudar em um caso, contudo. E se o fizer, posso intervir de forma a reduzir sua pena consideravelmente, prometeu Curt.
     Rok Olor deu de ombros.
     -- Não vou viver muito mais mesmo. Até mesmo a menor sentença para mim já é o fim. Mas o ajudo, sim, se puder.
     -- O Sr. possui uma gema espacial, não é? certificou-se Curt.
     Rok Olor chegou a tremer surpreso.
     -- Sim. Tenho sim. Peguei-a em um ataque a uma das rotas para Vênus antes de me aposentar. Pertenceu a um colecionador venusiano em viagem de volta para casa.
     -- Foi em uma das rotas vindo da Terra, não foi? Ezra quis saber. Eu lembro. Como conseguiu escapar?  Foi como se tivesse desaparecido.
     -- Aquela foi fácil, gabou-se Olor com um sorriso amarelo no rosto enrugado. Acionamos nossos escudos de proteção e tomamos o rumo de Mercúrio, bem próximo do Sol. De lá, fizemos uma meia-curva em órbita e alinhamos a rota para Marte e o cinturão de asteroides.
     -- Olha só! expressou-se Ezra. Não sabíamos que suas naves tinham escudos; faltou esse detalhe. Diga-me, você lembra aquela corrida que te dei perto de Saturno, e...
     -- Um momento, primeiro a gema espacial! interrompeu Curt.
     -- Vou pegá-la, disse Olor. Está em meu cofre.
     Voltou em poucos instantes segurando a joia. Futuro quase que lhe arranca da mão a pedra amarelada, lapidada com esmero. Cintilava como que recém cortada, e queimava a palma de sua mão.
     Curt pegou o pequeno escâner de raios-x de seu cinto. Aplicou os raios sobre a pedra junto ao seu rosto. Telepaticamente, à medida que a irradiação liberava as informações contidas no cristal, ele 'ouviu' uma voz remota vinda do passado.
     -- "Um pequeno gerador deve ser construído com capacidade de gerar vibrações dentro da décima terceira divisão da oitava oitava do espectro eletromagnético. Elas serão as ondas transportadoras que ao envolver o indivíduo, afetam todos os átomos. Corpo e vestimentas."
     Capitão Futuro desligou o escâner e mirou a gema com olhar pensativo. Lembrando-se da parte do segredo que havia captado da pedra de Yale, tentou juntar as duas informações na mente. Uma ideia bem fraca lhe ocorreu sobre a natureza do segredo de Thuro Thuun. Parecia fantástico, caso o segredo fosse esse mesmo...
     -- Não me admira que Quorn esteja tão ansioso para por as mãos nele, murmurou Curt. Imagine um poder destes na mão de qualquer um!
     A atenção foi atraída para as reminiscências que Rok Olor e Erza Gurney discutiam.
     -- Claro que você foi o melhor patrulheiro de todos, dizia o velho pirata a Gurney. Você acabou com aquele bandido uraniano, o Ju Jimos, em batalha aberta, e também aquele tal de 'falcão', o grande pirata.
     Os olhos de Ezra vidraram por um momento enquanto ele vagava nas memórias de tempos idos.
     -- Sim, o Falcão foi um dos melhores pilotos de todos os tempos. Que Deus o tenha.
     Rok Olor olhou-o confuso, mas o Capitão Futuro entendeu o repentino carinho que tomou a voz do velho caçador de criminosos. Somente a Futuro Ezra revelou que o Falcão era seu irmão caçula.
     -- Temos que ir, Rok Olor, disse Curt.
     -- O velho pirata balançou a cabeça.
     -- Quer me revistar e ver se carrego alguma pistola atômica, antes de entrarmos na nave, Ezra?
     Ezra virou-se consternado. Toda aquela bravata sobre arrastar Olor para a prisão havia evaporado.
     -- Escute, Futuro, disse, apesar de tudo, Olor é um ancião agora. Faz tempo que parou com as pilhagens.
     Curt percebeu o que estava acontecendo e evitou sorrir.
     -- Eu sei, disse solene, e daí?
     Ezra trocou o peso da perna.
     -- Você mesmo disse que tentaria um habeas corpus para ele por ter entregado a gema espacial. Eles vão soltá-lo de qualquer modo, por que o trabalho de levá-lo então?
     -- Quer deixá-lo aqui? Curt fingiu indignação. Mas você desejava tanto levar seu arqui-inimigo para a prisão!
     -- Capitão, quando já se está idoso como eu e ele, e nos reencontramos com camaradas com quem lutamos quando jovens, e trocam-se ideias daqueles tempos, a gente já não quer mal de ninguém. A gente fica meio que feliz em reencontrá-los, na verdade. Vamos deixar ele por aqui mesmo, concorda?
     Curt sorriu.
     -- Seu velho sentimental! Certo. Vamos fazer assim, então, Rok Olor, você já me ajudou o bastante com essa gema. Para mim e para Ezra você continua sendo Xex Iza, um ex-armador.
     Lágrimas rolaram dos olhos de Rok Olor embora mostrasse firmeza na voz.
     -- Fico muito grato a ambos. Adeus, Ezra.
     -- Adeus, Rok, seu velho diabo, sorriu o patrulheiro veterano.
     Deram-se as mãos.
     





(continua... capítulo 12: Grag com novas ordens)  





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