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Beauty shot!

08 outubro 2019

Capitão Futuro e as 7 Gemas Espaciais (Capítulo 7)


O Circo Interplanetário
  
     Grag, em seu disfarce de Homem Colossal, andava pesado pelas ruas escuras de Venusópolis. Carregava o cilindro da Máquina Pensante com Simon dentro.
     -- Armaram o circo lá perto do aeroporto, acho que essa rua vai dar lá, bradou o robô.
     -- Fale baixo, Grag! pediu a voz do Cérebro. Tem certeza que sabe o que fazer?
     -- Sei, sim, eu sou o Homem Colossal como disse o mestre, Grag respondeu. Só não gosto de deixar o Ihk sozinho na Cometa.
     -- Ezra e Joan vão cuidar bem dele, Simon assegurou.
     Grag parecia mesmo um homem gigante, pisando com estrondo, envergando um macacão sobre a pele sintética rosada e emborrachada. Porém, mesmo usando óculos escuros, sua fisionomia mostrava pouca expressão.
     Evitava as ruas mais iluminadas da cidade enveredando pelas mais escuras, com habitações de cimento e jardins bem sombreados. O aroma de flores estranhas se misturava com a leve maresia. Os fortes cheiros exalados dos charcos interiores o fazia se lembrar do Capitão Futuro em sua missão quase suicida.
     Curt Newton era uma preocupação constante para o robô. Para Grag, ele ainda era aquele moleque ruivo travesso que ajudou a criar na Lua.
     Passaram ao largo do aeroporto, um terreno de asfalto amplamente iluminado pelas luzes das docas onde estavam pousadas as naves provenientes de todos os nove mundos. Grag se aproximou do terreno adjacente utilizado pelo Circo Interplanetário para acampar os pavilhões de entretenimento e os picadeiros. O circo viajava de mundo em mundo com suas próprias naves que eram atracadas nas proximidades. Grag observou que a maior parte delas era composta de cargueiros tipo Cruh-Cholo; uma delas era um cruzador Rissman para 20 passageiros.
     Refletores Krypton iluminaram os pavilhões cônicos do circo formados por finas placas de metal resistente que podiam facilmente ser desmontadas e carregadas nos porões dos cargueiros Cruh-Cholo. Grag rumou para o pequeno pavilhão marcado como 'Escritório do Proprietário'. Um saturniano magro e azulado levantou os olhos para ele ao entrar.
     -- O que deseja? indagou desconfiado, olhando os dois metros da figura com cara de bobo do Grag.
     -- Você é o chefe do circo? perguntou em voz alta.
     -- Sim. Sou Jur Nugat, gerente proprietário, disse o saturniano, e muito ocupado também.
     Grag esmurrou o torso com a mão livre.
     -- Eu sou o Homem Colossal! O mais forte de todo o Sistema, sem exceção! Se tiver alguém mais forte, traga ele aqui que eu o quebro ao meio!
     Jur Nugat olhou aborrecido para aquela cena de vanglória.
     -- Você pode ser forte como um paquiderme joviano, mas por que vem me aborrecer?
     -- Você quer um homem forte para o seu circo? perguntou Grag sem expressão. Você contrata eu e consegue o maior fortão que existe. Quebro barras de açonite e troncos de árvores fácil, fácil!
     Jur Nugat sacudiu a cabeça.
     -- Desculpe. Não serve para mim.
     -- Quer dizer que não sou bom? Mas... vou te quebrar ao meio! e se debruçou de forma ameaçadora. Jur Nugat se esquivou assustado.
     -- Calma aí! ladrou o saturniano. Você não serve aqui, mas pode ser que lá na companhia que nos acompanha tenha lugar. Vá, e procure Ul Quorn.
     Grag hesitou.
     -- Está certo, eu vou. Esse tal de Quorn é melhor me contratar ou quebro ele ao meio.
     Saiu da sala levando o Cérebro mas ainda escutou o muxoxo de Nugat pelas costas:
     -- O maldito já deve ter quebrado é a cabeça em dois!
     Grag riu.
     -- Não me saí bem, Simon? Seria ótimo entrar para o show do Quorn.
     -- Quorn é muito mais esperto, aconselhou Simon, não exagere.
     Grag andou por entre os pavilhões e passou por um grupo de empregados, formados por etnias de todos os mundos, super ocupados em prender os últimos painéis de metal. Um paquiderme joviano, enorme, cabeça redonda de elefante, couro marrom, arrastava uma gaiola enorme.
     Gritos e exclamações em meia-dúzia de línguas interplanetárias cortavam a noite. De ensurdecer eram os rugidos das inúmeras bestas-feras sendo descarregadas do bojo do cargueiro zoológico. Grag atravessou todos esses ruídos placidamente em direção à 'Trupe de Maravilhas dos 9 Mundos'.
     Os participantes do show de esquisitices de Ul Quorn já estavam a postos para as apresentações da noite. Grag marchou por entre eles e chegou à porta da sala privativa de Quorn onde um netuniano cadavérico de pele cinzenta se refestelava.
    -- Esse aí deve ser o esquisito que o mestre chamou de Auscultador, pensou Grag. Tenho que tomar cuidado com o que eu disser perto dele.
     -- Onde está o chefe?
     -- Lá dentro, respondeu o netuniano, mas você não pode entrar.
     -- Ele vai me ver, sim! retumbou Grag. Sou o Homem Colossal e vou vê-lo agora, sim.
     O Auscultador tentou barrar-lhe o caminho, mas Grag o arremessou para o lado com um simples balanço do braço gigante. O barulho trouxe um homem e uma mulher para fora da sala. A garota era uma marciana de olhos escuros e beleza felina, mas Grag se voltou para o homem. O rosto bonito de tez avermelhada e olhar negro inteligente de Ul Quorn causou certo choque em Grag.
     -- Mas, eu conheço esse homem, pensou Grag perplexo. Embora de alguma forma eu jamais o tenha visto antes.
     -- Qual a causa desse estardalhaço? Ul Quorn perguntou com voz macia, e mesmo assim ameaçadora.
     Grag colocou o cilindro do Cérebro no chão e apanhou uma viga de metal que viu largada de lado. Usando a força tremenda dos braços robóticos, dobrou a barra duas vezes.
     -- vendo? Eu quebro tudo em dois! e fingiu arfar com o esforço. Me contrata?
     -- Livre-se desse troglodita incauto! sugeriu a marciana impaciente.
     -- Não tão rápido assim, N'rala, replicou Quorn friamente. Um sujeito com tamanha força física pode nos ser útil. Estudou o rosto abobado de Grag e falou calmamente tentando alcançar sua mente limitada.
     -- Se eu te contratar, você vai trabalhar no show e obedecer às minhas ordens em tudo, compreende?
     -- Claro que faço o que o senhor quiser, chefe, retumbou Grag feliz. Chefe não gosta de alguém, chefe me chama e eu quebro ao meio.
     Quorn riu de leve da bravata idiota.
     -- Muito bem, está contratado. E que máquina é essa que você traz aí?
     -- É a Máquina Pensante. Ela responde a qualquer pergunta, explicou Grag. É minha. Pergunte alguma coisa, chefe.
     Ul Quorn, olhando curiosamente para o cilindro, perguntou com zombaria.
     -- Vamos ter sorte em Marte?
     Dentro do cilindro, o Cérebro falou lentamente com voz mecânica, bem artificial.
     -- Você vai para Marte logo e encontrarás um novo amor.
     -- Não me respondeu devidamente, mas serve de atração, criticou Ul Quorn, e olhando para Grag. Você a fez?
     -- Não, chefe, não consigo isso, Grag falou rápido. No último show em Plutão, que não deu dinheiro, o gerente não conseguiu pagar a gente. Eu disse, vai me pagar ou te quebro todo. Ele disse que me dava a Máquina Pensante pelos salários atrasados. Ele disse como funciona, mas esqueci. Acho que ele disse que tem milhares de frases gravadas dentro da máquina. Ele disse que as palavras das perguntas fazem conexões automáticas que fazem ela criar uma resposta apropriada. É, acho que foi isso que ele disse.
     -- Muito bem, pode usá-la na sua apresentação, disse o cientista mestiço desinteressado. O Auscultador vai lhe mostrar o vestiário.
     Já no cubículo, Grag esperou até que o Auscultador se afastasse antes de falar.
     -- Acho que enganamos Quorn, Simon, sussurrou para o Cérebro. Mas ele me é muito estranho, parece familiar.
     -- Também senti... senti como se o conhecesse embora jamais o tenha visto, completou Simon confuso. Otho sentiu o mesmo. Enfim, vamos ficar de olho sem levantar suspeitas.
     Na manhã seguinte, Grag devotou seu tempo a aprender o máximo sobre Ul Quorn e o show de artistas esquisitos. Além do Auscultador e do Homem Camaleão descritos pelo Capitão Futuro haviam outros 'artistas' no show. O Lobo Lunar Inteligente era um animal de seis pernas de Io que conseguia ler, escrever e calcular com perfeição. Na verdade, Grag logo descobriu que Quorn havia transplantado parte do cérebro de uma pessoa para o crânio da fera, dando-lhe genuína inteligência.
     Quorn também empregava o Homem Enguia, um venusiano cuja estrutura óssea fora substituída por feixes elásticos. O resultado dava ao 'homem' a capacidade de se espremer como quisesse ao ponto de dar nós nos próprios membros. Grag percebeu que o primeiro era uma criatura de índole calma que lhe agradou, e o segundo era muito tímido. Contudo, não gostava muito dos Gêmeos Meteoros, Juho e Luho, dois plutonianos horríveis que sempre o fitavam com olhos vermelhos hostis.
     Todos os 'artistas' tinham medo de Quorn. O menor sopro do mestiço era cumprido com ansiedade frenética. Grag se deu conta da posição perigosa que tinha tomado, mas foi capaz de manter o disfarce de fanfarrão.
     -- Quando me tratam bem, eu também trato, ressoou. Quando me fazem mal, eu quebro eles ao meio!
     -- Melhor não me ameaçar, não, disse o Auscultador.
     -- Deixem o fortão em paz, rugiu o Lobo Lunar. É só da boca para fora; é um bom rapaz.
     Na espreita, Grag viu mais tarde uma figura magra, um ganimediano branco, andando despreocupado e meio orgulhoso.
     -- Aquele é o novo acrobata que Jur Nugat contratou recentemente, falou o Lobo com sua voz arrastada. Ele chama a si mesmo de o Ultra Acrobata. Dizem que já fez apresentações assombrosas.
     -- Não gosto de acrobatas, declarou Grag. Eles andam como insetos. Se chegar perto de mim, eu...
     -- Você o quebra ao meio? perguntou o Lobo olhando debaixo para ele com um brilho cômico nos olhos animalescos.
     No começo da tarde, o circo se abalou com a chegada de um jato-flutuador Kalber que pousou perto e de onde desembarcou um venusiano enorme, trazendo pelas mãos seis monstruosidades de escamas negras.
     -- Tigres pantaneiros... e soltos! foi a gritaria geral.
     Artistas e trabalhadores fugiram em todas as direções, mas as feras bambolearam docilmente em direção ao pavilhão principal. Grag sabia que o visitante dos charcos guiando os bichos era o Capitão Futuro. Curt tinha se disfarçado tão bem que estava praticamente irreconhecível. Seu cabelo ruivo encaracolado era agora negro e liso, a pele bronzeada tinha um tom branco pálido como os habitantes dos pântanos. Vestia um macacão surrado com zíper e tinha uma das mãos no bolso. Era a mão que segurava o docilizador e que mantinha os tigres quietos por meio de suas irradiações. 
     Ele viu Capitão Futuro se aproximar do escritório de Jur Nugat. O dono do circo tinha se trancado por dentro!
     -- Leve estes monstros embora! ordenou o saturniano.
     -- Eu as controlo, respondeu Curt confiante em um dialeto venusiano. Sou Kovo e pensei que talvez quisesse comprar estas feras pantaneiras.
     Medroso, Jur Nugat saiu do escritório confiando em que os bichos estavam domados. Grag o escutou indagar:
     -- Foi você mesmo que domou esses monstros? Mas ninguém jamais fez isso antes!
     -- Eu fiz, afirmou o pseudovenusiano. Veja.
     Curt afagou os tigres, brincou com eles, puxou-lhes as orelhas, fez de tudo para excitá-las. Nem se moveram.
     -- Se você fizer isso em público será a sensação do circo! Jur Nugat se entusiasmou.
     -- Bem, eu só queria saber se queria comprá-los, Curt fingiu relutar.
     --Pago o que pedir... se for razoável, ofereceu Jur Nugat. Mas não vou comprar os tigres se você não vier no pacote.
     Naquele dia, Grag não ouviu mais falar do venusiano domador de tigres que iria se juntar às apresentações da noite.
     Mais tarde, as luzes e a música enchiam o circo e as atrações paralelas. Multidões de venusianos falantes e curiosos percorriam as alamedas.
     -- Você entra após o Lobo Lunar, Ul Quorn dirigiu Grag. Sua Máquina entra em seguida. 
     Quando o Lobo Lunar terminou o número de expor seu intelecto humano com voz rouca e calma,  Grag entrou. Ele já havia preparado uns acessórios, pesos e barras, para o número.
     -- Eu sou o Homem Colossal, bradou ele para a audiência. Tão vendo esta barra? Vou partir ela ao meio!
     Os espectadores explodiram em vozes de surpresa quando Grag quebrou a barra, aplaudiram alto quando ele carregou pesos de toneladas, dobrou vigas, e concluiu levantando uma plataforma sobre a qual se equilibravam vinte criaturas.
     -- Agora, a minha Máquina Pensante! gritou. O autômato que responde pergunta de verdade.
     O cilindro contendo o Cérebro subiu ao palco e as perguntas começaram a pipocar da plateia. O Cérebro começou a responder com uma voz hesitante e deliberadamente artificial.
     -- Por que meu marido não retornou da Terra ainda? perguntou uma mulher.
     -- Marido... Terra... garota bonita, respondeu Simon.
     A arquibancada caiu na gargalhada. Ao responder, o Cérebro tomara todo o cuidado para não dar respostas muito convenientes. Ele não queria dar a entender que não era nada além de uma máquina falsamente capaz. Em seguida, levaram-no para dar lugar à apresentação do Homem Camaleão. 
     Deixado em um canto dos bastidores, Simon ouviu o Auscultador e Ul Quorn conversarem.
     -- Estou lhe dizendo que o Capitão Futuro está disfarçado aqui no circo!
     -- Ele está na nossa cola. Vou acabar com isso agora mesmo, disse Ul Quorn tenso.
     


(continua... capítulo 8: A Jaula da Morte) 





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